segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O quartel pegou fogo

Toda criança da minha época de infância conhece a cantiga do “Marcha Soldado”. Digo da minha época porque hoje já não se aprendem mais essas cantigas. Independente de ser menino ou menina, a brincadeira nos levava a imaginar como é pomposo usar aquele uniforme impecável e sair por aí com banca de herói.
Cresci com a idéia que as Forças Armadas praticavam a justiça e, até bem pouco, eu via os meus soldados como homens do bem, livres do preconceito e prontos a instalar a paz. Independente deste conceito-modelo, aprendi ao longo da vida outras formas de admiração e respeito, principalmente no que se refere às opções e ao modo de viver do outro. Em cada segmento que transitei, adquiri respeito pelo profissional que a mim se apresentava, vendo-o como um igual, usando sempre um dos dez mandamentos: “respeitar o próximo como a si mesmo”.
Na semana passada, o general Raymundo Nonato bombardeou a sociedade brasileira com sua declaração sobre a existência de gays nos quartéis. Segundo o oficial, tal opção não é condizente com a atividade militar e que os homossexuais aceitos devem manter sua escolha em segredo, pois correm o risco de não serem respeitados pela tropa. A declaração causou protestos e comoção social em todo país. Entidades como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) consideraram lastimáveis e discriminatórias a não aceitação de gays pelas Forças Armadas.
Indicados pelo Presidente da República para assumirem os cargos de ministros do Superior Tribunal Militar (STM), o almirante Álvaro Luiz Pinto e o general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, tiveram seus nomes aprovados pelos senadores da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania após sabatina, mas ainda precisam ter seus nomes aprovados pelo plenário.
Incomodados com as declarações do general, o “super-senador” Eduardo Suplicy e outros 21 parlamentares adiaram a votação para melhor analisarem a indicação. O Senado quer que os indicados garantam respeitar a Constituição, que repudia qualquer tipo de discriminação. Ressalvo o almirante Álvaro Luiz Pinto que disse: “– Não há problema em um gay fazer parte das Forças Armadas, desde que ele mantenha a dignidade da farda”.
Num mundo tão pluralizado, o preconceito e reacionarismo não condizem com o papel democrático de futuro para as Forças Armadas. O Exército brasileiro segue um código de disciplina da época do Duque de Caxias, no qual um homossexual recebe como punição a expulsão com desonra, castigo igual ao que é imposto aos traidores.
Bom que o general Raymundo Nonato abriu o bico e trouxe ao público o que se escondia nas casernas e não ultrapassava os muros dos quartéis. Mostrou-nos o quanto tem que melhorar e discutir sobre o lixo escondido nas autarquias das Forças Armadas.
A cultura de uma organização não deve ser estática e permanente, mas tem a obrigação de adaptar-se ao longo do tempo, abrandando suas regras de acordo com a evolução da sociedade. Sustentar novos conceitos e incorporá-los é crescimento para a sociedade. De repente, percebi que o quartel pegou fogo.

Um comentário:

Marcelino Tostes Padilha Neto disse...

Pois é, Fátima! As máscaras que as pessoas usam um dia caem assim, no susto!, e eles mostram suas "razões" preconceituosas e prepotentes no escercício do poder! Que bom q as denúcias acontecem e as críticas tb... acho q vc só pode avaliar a sexualidade de uma pessoa se quer transar com ela! rsrsrsrsrs
Parabéns pelo posicionamento e pela beleza que escreve e que nos expõe seus pontos de vista!
Um beijo!
Quer transar comigo? kkkkkkkkkkkkk