sexta-feira, 18 de novembro de 2016

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quinta-feira, 24 de março de 2011

Ernesto Mayer Filho
Pois é... achei tão lindo esse galo que resolvi postá-lo. É saudades, com certeza do meu quintal e do canto nas madrugadas. Eu achava que tinha tão pouco que resolvi alçar voos. No fundo esqueceram de mim no galinheiro. Hum que coisa imbecil, culpa é da insônia que só me diz besteiras.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O meu cerzir

Colo durex em minhas frestas
remendo-me
em linhas azuis
amarelas
verdes

em pontos cheios
encho de cor
o que foi dor

de tanto coser-me
colar-me
hoje sou
uma imensa
colcha em concha

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

“Solidariedade, amigos, não se agradece, comemora-se!” *



Começo meu texto com um poema do poeta mineiro, Murilo Mendes, chamado Solidariedade:

“Sou ligado pela herança do espírito e do sangue
Ao mártir, ao assassino, ao anarquista,
Sou ligado
Aos casais na terra e no ar,
Ao vendeiro da esquina,
Ao padre, ao mendigo,
À mulher da vida,
Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,
Ao santo e ao demônio,
Construídos à minha imagem e semelhança”.

Sim, somos ligados em nos dar sem preceitos e preconceitos. E quando apanhados de supetão por tragédias, o peito amargura em dor, abrimos o guarda-roupas e de lá retiramos agasalhos que acumulamos por anos sem saber o porquê, ou melhor, sabendo sempre que serão úteis um dia. São nesses dias de dor que lavamos os olhos por conta da desgraça alheia, o corpo fica anestesiado, sem vontades de festas e risos.
Estou tão triste que mal me caibo em ver outras coisas. Não é momento de se achar um algoz, porque fome, frio, medo transpassam a nossa razão. Somos vulneráveis. A roupa de super-homem é fantasia, assim como a ideia de sê-lo no momento.
Dobro as roupas numa conversa de despedida, junto o pão, o sabão e um pouco mais, tudo em uma caixa bem lacrada, são partes de mim que divido. É meu quinhão de solidariedade.
No meio da imensa amputação dos sonhos de quem tudo perdeu, vamos juntando nossos pedaços na tentativa de recriar, abrandar as mazelas provocadas pelas calamidades. Aferramos nossas casas à beira do rio, nas encostas, porque necessitamos a proximidade do trabalho, deixamos há muito de sermos rurais. Como a vida passa rápido, construímos sonhos relâmpagos. E num piscar de olhos as chuvas chegam bravas no verão, escorrem pelo verde das montanhas, rasgam a terra e faz-se sangue enlamiado, põe abaixo tudo àquilo que um dia foi lar. O rio que se sente oprimido pelas margens, grita, espalha-se.
Tudo que vi nessa semana não foi castigo ou praga divina, foi omissão de autoridades, deszelos de muitos anos. As cidades com o tempo serão total ou parcialmente reestruturadas com algumas cicatrizes. Mas o povo emboçado pela terra dificilmente reconstruirá suas vidas. Terão roupas doadas, cestas básicas, donativos que jamais cobriram suas dores.
Não ouviram como eu agora a canção Yesterday, porque ontem foi um dia de muita dor, melhor esquecer. Caro leitor, sei que esperava de mim uma posição mais crítica, menos emotiva. Busquei em Murilo Mendes o meu sentimento que ora ofereço. Não quero arredar meu dedo em riste e apontar culpados. Não é o momento para inquisição. E quem sou eu para tal? Nem político ou Deus eu sou. Ainda citando Murilo, encerro com estes versos do poeta juizforano: “Senhor do mundo, me tira de mim pra que eu possa olhar os outros e eu mesmo”. E que Deus ajude a todos os alemparaibanos a recuperarem suas perdas.


* A frase do título é do sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert José de Souza, o Betinho.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O espírito do Natal


Essa coisa de Natal sempre me pega de jeito, tento resistir até o dia dez de dezembro, aí fico ensandecida porque não tenho uma árvore com bolinhas vermelhas. Corro para as Lojas Americanas e lá me encho com o espírito natalino. Monto uma guirlanda, armo presépio e passo a me sentir uma cristã nata. Qual o quê? Sou apenas mais uma entre milhões que se deixa contagiar pelas purpurinas natalinas. E não me venham com discursos ecologicamente cristãos.
Tenho um amigo que se veste de duende para agradar as criancinhas e o seu bolso com um ganho extra. Ele odeia duendes. Imagino também os milhares de Papais Noéis espalhados pelos shopinggs e vielas de comércio popular. Dezembro é um mês de um calor infernal, a gente olha para o bom velhinho e percebe o suor descendo pela cabeleira de nylon. Mas a causa é justa para todos.
Para os que ficaram preocupados com a questão da caprichada refeição da noite de Natal, vale lembrar que a comida, nesse caso, é um grande pretexto para unir, numa mesma mesa, parentes e amigos. Mesmo que esta seja a última ceia da família reunida.
A coisa começa com o discurso: “peça perdão pelos erros e desentendimentos. O nascimento de Cristo é época de comunhão e entendimento”. Não há Cristo que apazigue um grupo de bêbados cheios de mágoas e recalques. Melhor é começar a troca de presentes na melhor e mais barata forma de não se gastar muito e desagradar de vez o seu “quase amigo oculto”. Afinal o valor estipulado é sempre baixo. Dá para sentir o desgosto na cara de todos.
No dia seguinte o peru adormecido entala, azias, males do estômago e o lugar comum é o banheiro, onde todos confraternizam suas merdas de vidas. Provavelmente nem todos os natais são trágicos, mas o fim sempre nos leva a sonhar que no próximo ano cada um passará no seu canto, e o máximo que podem se aproximar, é através das redes de relacionamentos, com uma webcam.
Relendo as frases acima, percebo que corro o risco de ser mal interpretada. Se há uma característica que aprecio no cristianismo é a sua visão para o marketing. É preciso ser muito bom para transformar uma simples dissensão de uma religião complicada e impopular como o judaísmo numa das fés mais seguidas e difundidas no mundo. A liturgia natalina ilustra bem a vocação mercadológica do cristianismo.
Não há como fugir ao apelo das luzinhas, do pisca-pisca made in China, dos megacongestionamentos de carros nas grandes cidades até os indefectíveis pedidos de caixinhas de fim de ano. Sem querer decepcionar e criar desafetos e inimigos, enxergo nessa época do ano alguma alegria e prazer, principalmente quando acabo de montar minha árvore. Afinal, faço parte do grupo de consumo involuntário.
É evidente que com o passar do tempo, nós nos tornamos mais sábios, mais chatos, mais lúcidos e abrimos os olhos para os meios tortos e corruptos sobre o qual opera a mágica do Natal, a esperança do ano novo. A parte artificial que move as festas de final de ano fermenta em mim uma vontade louca de ser uma fênix, virar cinza somente para retornar à vida, firme e operante – envolvendo, lentamente, em chamas minhas esperanças através do ano que chega.
Para Tiago L. Garcia, “este núcleo ético e estético do Natal é profundo neste sentido: profundo enquanto refletem o anseio estético de muitos homens por uma vida plena de conforto, prazer e alegria (que é tostar uma maçã e acordar tarde em dias de inverno, como nos sugere Walter Benjamim); é ainda mais profundo quando aponta que o conforto, a alegria e o prazer somente são legítimos, eticamente e esteticamente, através da bondade - da divisão material daquilo que proporciona o conforto e o prazer até que, como diria Hegel, não falte cobertores a ninguém”.

domingo, 12 de dezembro de 2010

“Por uma infância sem racismo”

No último dia 29 de novembro, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) lançou a campanha nacional sobre o impacto do racismo na infância. A iniciativa tem o slogan “Por uma infância sem racismo”. O objetivo é orientar os adultos sobre como tratar o tema da diversidade com as crianças e evitar que o preconceito se perpetue.
Não me lembro de quando criança isolar amigos pela cor da pele e até hoje transito com pessoas de cores diversas que compõe meu grupo de amigos. Naquele tempo de criança, a gente se misturava em escola pública de qualidade e não percebia que no final os caminhos não seriam iguais. De lá aos dias de hoje o mundo girou, girou, deixou-nos tontos e muita coisa submergiu na sociedade.
Só hoje, percebo que as condições de voo para todos não era igual. Realmente, eu via e vejo o mundo sem cor, sem peles. No entanto, tento buscar os caminhos percorridos de amigos negros do meu tempo de escola. Não os vejos ocupando bons espaços na sociedade atual.
Pessoas não são cores de pele. São sim, cabeças, vísceras, olhares, valores morais e principalmente, sentimentos. A preocupação carece de ser debatida e combatida. Segue abaixo um manual para contribuir para uma infância sem racismos:
1. Eduque as crianças para o respeito à diferença. Ela está nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.
2. Palavras, olhares, piadas e algumas expressões podem ser desrespeitosas com outras pessoas, culturas e tradições. Indigne-se e esteja alerta se isso acontecer!
3. Não classifique o outro pela cor de pele; o essencial você ainda não viu. Lembre-se: racismo é crime.
4. Se seu filho ou filha foi discriminado, abrace-o, apóie-o. Mostre-lhe que a diferença entre as pessoas é legal e que cada um pode usufruir de seus direitos igualmente. Toda criança tem o direito a crescer sem ser discriminado.
5. Não deixe de denunciar. Em todos os casos de discriminação, você deve buscar defesa junto ao conselho tutelar, às ouvidorias dos serviços públicos, da OAB e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. A discriminação é uma violação de direitos.
6. Proporcione e estimule a convivência de crianças de diferentes raças e etnias nas brincadeiras, nas salas de aula, em casa ou em qualquer outro lugar.
7. Valorize e incentive o comportamento respeitoso e sem preconceito em relação à diversidade étnico-racial.
8. Muitas empresas estão revendo sua política de seleção e de pessoal com base na multiculturalidade e na igualdade racial. Procure saber se o local onde você trabalha participa também dessa agenda. Se não, fale disso com seus colegas e supervisores.
9. Órgãos públicos de saúde e de assistência social estão trabalhando com rotinas de atendimento sem discriminação para famílias indígenas e negras. Você pode cobrar essa postura dos serviços de saúde e sociais da sua cidade. Valorize as iniciativas nesse sentido.
10. As escolas são grandes espaços de aprendizagem. Em muitas, as crianças e os adolescentes estão aprendendo sobre a história e a cultura dos povos indígenas e da população negra e como enfrentar o racismo. Ajude a escola de seus filhos a também adotar essa postura.
Toda criança nasce “zerada” em termos comportamento de segregação, com o tempo más influências e vivências resultam o não reconhecimento pelo outro, devido sua cor e raça. No Brasil vivem 31 milhões de crianças negras e 160 mil indígenas, ou seja, 54,5% da população infantil. O que assusta é saber que o índice de mortalidade infantil e de crianças fora da escola, é maior no grupo de etnia negra.
É comum assistirmos falas e declarações de conteúdo racista em tom de brincadeira, ou de piadas. Isso tem se reproduzido de geração a geração e passado de pai para filho, como se fosse um costume de família. Num país de tantas cores, vindas de todas as regiões do mundo são prova de riqueza cultural. Não podemos aceitar que a cor da pele determine a vida de crianças, que apague sonhos e limite as expectativas de futuro. Precisamos urgentemente combater o racismo desde cedo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pra não dizer que não falei de Paul

Essa provavelmente será a última turnê do ex-Beatle, o mesmo já declarou que pretende aproveitar a infância de sua filha caçula, Beatrice. Eu também cuidava do crescer de minha filha em 1990, não fui vê-lo. Havia em mim a irreverência, daquela época. Eu sempre o esperei nas tardes solitárias de domingo, na vitrola destroçada a energia do teu idioma (eu não sabia inglês e ainda não sei) demolia a mesmice da minha vidinha de cidade do interior. Aos 30 e tantos anos sua música fez meu mundo mudar. E mudei. “Por todo o dia eu sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu.” (I me mine).
Desculpem-me o caráter intimista do artigo, sou tão memória que mal posso reconhecer onde começa o dia de hoje. Acho que começou em 1967, quando o mundo andava de pernas pro ar. A guerra do Vietnã já rolava por dois anos, Glauber Rocha mostrava as contradições do Brasil em “Terra em Transe”. No teatro, Zé Celso Martinez Corrêa estreou sua famosa montagem de “O Rei da Vela”, no Teatro Oficina. Na música, Caetano Veloso e Gilberto Gil apresentaram “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque”, inaugurando o Tropicalismo. Em cena, a música brasileira misturava o erudito com o popular e se discutia política e estética num dos maiores festivais do Brasil. E Frank Sinatra, curvou-se ao gênio de Tom Jobim, dividindo um disco com ele. Na literatura, o colombiano Gabriel García Márquez consolidava o “realismo mágico” e o boom latino-americano com seu “Cem Anos de Solidão” e o romantismo revolucionário do continente chegava ao fim com a morte, na Bolívia, de Che Guevara, o guerreiro imortalizado no mundo inteiro. Aqui, a ditadura era institucionalizada com AI-5. Só restava-me nas tardes sonolentas, os Beatles.
Eu sonhava em viajar no Yellow Submarine. Como a letra da música Eleonor Rigby cantava: “Todas as pessoas solitárias, de onde elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de onde elas são?”. Assim, embalei-me anos entre cantigas, cruzes, desamores e direção incerta.
Nesse domingo você veio me buscar, não trouxe o John, tampouco o George, Ringo preferiu ficar distante de nós. Seu rosto pregado em rugas, sua bochecha meio caída, pareceu-me uma senhora inglesa, só lhe falta um chapeu com flores. O tempo foi implacável até para um ex-Beatle. Eu também, “senhorei-me”, deixei-me levar pelos prazeres da mesa.
No entanto, aos 68 anos, Paul McCartney esbanja boa forma no palco. Vegetariano e único no grupo que poupou-se de exageros no uso de drogas. Ainda esbanjo muito gosto por suas cantigas e percebo que sua plateia tem eternamente 20 e poucos anos assim, como eu.
Sabe Paul, aqui as coisas mudaram, ando sem money, hoje é domingo, tenho que entregar o artigo para o jornal. Não poderei ir vê-lo, sei que “Quando eu ficar mais velha, perdendo meus cabelos. Muitos anos adiante. Você ainda irá me mandar presentes no dia dos namorados” (When I'm Sixty-Four).
Tudo bem, eu me conformo em passar o resto da noite ouvindo Hey Jude e Strawberry fields forever. Mesmo sem nunca ter visto um show desse jovem senhor de 68 anos, permito-me compará-lo ao cometa de Halley, reaparece por aqui, talvez acenando a um outro tempo nosso - e dele - forçando-nos a rever, reavaliar, renascer. Ficamos todos tatuados com a sua presença Sir James Paul McCartney. Até breve!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Aprendi que alfabeto é coisa que se embrulha. Por isso, carrego um saco no peito cheio de letras. Alimento-me de versos. Tem dia que arqueio o pensamento, solto arrotos e desabo-me inteira em prantos. É que dentro de mim ancoram lembranças. Reboco-as com maquiagem exagerada, porque sei no quanto sou insuportável se estou com saudade. E reverso entre a Maria tonta e a Maria venturosa. Assim, mergulho no imperfectível das entranhas do ser. O que tenho não se cura com doses halopáticas ou homeopáticas, é agonia em ritos, uma alma ambulante que se vende por qualquer afeto.
Em nada sou intuitiva. Ajo como os pássaros: saltito por galhos, solto grasnidos, esforço-me por ser ouvida, tenho tanto dentro de mim que mal cabe num só voo. Quando olho espelhos, vejo com gosto o que os outros não captam. Minha boca, cheia de teias, tece versos em rendas de brio, alguns apaixonados, outros enlutados que por descuido revelam as dores que mal sei fingir.
Não têm paredes, nem corredores nos sonhos de quem sonha. Carrego o medo de ser desatinada por soltar o verbo sem a prudência dos adultos. Ouso o riso inábil, se me afrontam, faço-me de tonta porque sou Narciso, vivo para me amar.
Impossível viver linearmente, no fundo entediante. Não me presto a ser transparente como as lentes dos míopes, reviro a bobagem avulsa atrás das verdades escondidas nos tapetes. No dia da minha morte, Maria a louca não fechará os olhos. Devo pegar um pé de vento num cavalo, galopar saboreando uma bacia de camarões.
Mas a morte anda distante e eu ainda tenho muito que espernear. Dentro da minha retina há tantas horas e épocas para se nascer, que seria uma puta sacanagem ter em mim apenas uma existência. Enquanto o tempo fogueia, enrolo-me em cetim e reinvento uma outra história, como Sherazade. Vagueio nos pontos do bordado, absorta nas minhas ilusões.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Gentileza é nobreza

Na medida que me prendo diante da tevê, encho minha pança de insanidades, porque a cabeça já não se alimenta, gira igual pião de infância, que não existe mais. Preciso parar, ler e deixar de me envolver com as notícias. Quero passear longe da mesquinhez e do emaranhado de informações que me enfiam goela abaixo.
Na coluna do Alselmo Gois de domingo passado uma notícia que me chamou atenção: a filha da Maitê Proença esqueceu seu laptop num táxi no centro do Rio com todo o material de estudo. O motorista buscou pistas até encontrar a filha de Maitê e devolver o aparelho. Forma de gentileza que poucos têm nos dias de hoje.
Fechamos os olhos aos pequenos enganos, aos graves abusos e mesmo sangrando nem percebemos que a injustiça e a nossa omissão diante do pequeno podem ser aliviadas com gestos de gentileza. A gente vive anestesiada, choramos pela morte abrupta de alguém hoje, amanhã continuamos a seguir a novela do crime, com atores reais, aflitos que logo termine. Pois o show precisa ser renovado. E assim vamos empurrando nossas culpas para debaixo do tapete.
Convivemos com atentados à dignidade humana sem nenhuma reação, porque nos acostumamos a presenciar e calar. Sorrir deixou de ser habitual e ser educado com as palavras: por favor, me dá licença e obrigado são frescuras neste mundão machista.
O mundo globalizado incita as pessoas em direção à xenofobia, à intolerância diante do outro, à idéia de que há um atalho histórico, que nos leva ao consumismo e ao individualismo desenfreado. Chega do suplício diário sobre as torturas nas cadeias deste nosso imenso país, cujas vítimas sabemos, em geral são negros e pobres. Um basta ao trabalho e à prostituição infantil, ao político sem pudor e cheio de lábia, ficamos hipócritas, hienas numa nação sem o espírito de missão cívica e patriótica.
Nós nos acostumamos com professores e médicos mal remunerados, com o lixo nas ruas, com a falta de gentileza entre as pessoas, com a grosseria e corrupção. A barbárie campeia livremente. Perdemos os limites do que é ser civilizado. Hoje, meu artigo é esse poço de dor que pretende mostrar que o intolerável não pode ser tolerado.
Gestos com o do motorista de táxi e alguns outros deveriam ser estampados em letras garrafais como feitos gloriosos. Quem sabe a gente aprende, de novo, a ser gente. Não quero criar fronteiras e nem barricadas nas minhas vidraças. Portanto, viva a gentileza!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Futebol: muito mais que um esporte.

Alfredo Volpi

Quando a Holanda fez o segundo gol, meu peito travou, engoli a seco, decidi que era hora de retirar a bandeira da janela, a pipoca da sala. Eu sabia que não adiantava evocar santos. Pensei nos sonhos dos meninos-jogadores que para driblar a miséria, apostam as esperanças de uma vida mais digna nos pés. É um drible contra a miséria e a falta de escolaridade.
O futebol promove uma trégua na perversa desigualdade social, a maioria dos garotos de origem pobre no Brasil sonha em ser jogador de futebol. Afinal, num país com a oitava pior distribuição de
renda do mundo, as chances de ascensão social são pequenas. E a Copa Mundial de Futebol é a consagração, a oportunidade de bons salários e respeito como cidadão.
Em outros tempos, eu achava absurdo o salário que os jogadores ganhavam, afinal, muitos dos nossos filhos passam anos em bancos de faculdades e suas remunerações nem chegam perto dos atletas. Hoje entendo que essas distorções são umas formas de compensação.
Os jogos da Copa são a única ocasião em que todos nós, brasileiros, nos lembramos do Brasil, como pátria. Vestimos-nos de verde-amarelo, sem preconceitos. A combinação não é nada harmoniosa, convenhamos. Num misto de orgia, folia, paixão poetizamos as ruas, praças, praias e todas as vias e vielas do Norte ao Sul num momento tão coletivo e único de cidadania.
Literalmente, futebol por aqui é uma catarse, uma sutil esperança vinda de quatro em quatro anos. Parece que se o Brasil ganhar a competição todos sairemos gratificados. Sairemos sim, de alma lavada, com a certeza que somos os melhores em alguma que nem sabemos bem o que é.
Maldita Holanda! Que há muitos anos esteve por aqui e quase controlou todo o Nordeste. Talvez se cá ficassem por mais tempo, teríamos aprendido algumas bases sociais e econômicas bem diferentes do nosso “Brasil português”.
Depois de tanto tempo num gramado distante nos encontramos com os holandeses, por quarenta e cinco minutos fomos supremos. No segundo tempo, a seleção laranja melhorou e pela primeira vez desde 1974 venceu o Brasil numa Copa do Mundo. Wesley Sneijder marcou os dois gols holandeses contra o Brasil e se tornou herói.
A Holanda não foi um time perfeito, mas jogou do mesmo jeito do começo ao fim da partida, pressionando pela posse de bola no campo do Brasil, ciente de sua inferioridade técnica. Foi taticamente aplicada, e contou com uma sorte fantástica, diga-se de passagem. O desastrado Felipe Melo subiu numa bola que o Lúcio ou o Juan teriam deixado para o goleiro. Perdemos para os próprios nervos, atiçados pela marra, catimba e vontade de vencer dos holandeses. Do lado de cá restou-nos jogar “pedras na Geni”, Dunga, enfiar a viola no saco e crer que em 2014, venceremos.
O fracasso futebolístico nos submete a frustração de que o nosso sucesso como povo e nação estará sempre atado ao futebol. Saímos todos em prantos, enrolamos nossos símbolos acreditando que a perda cravou um punhal no nosso desenvolvimento. No final ficamos órfãos, o chope amargou, a conta atrasada, mais difícil de se pagar, os salgadinhos espalhados pela sala, a maldita vuvuzela se calou e tudo cinza ficou. Sobra-nos um conforto, a Argentina também voltou pra casa de mãos abanando.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Rês desgarrada

O rebanho dos políticos parte em bandos para as Assembleias de Deus. É lá que encontram a maioria dos votos daqueles, que no desespero, abraçam o mundo evangélico como tábua de salvação e redenção para seus pecados e carências econômicas. Saibam que não são poucos. Hoje, no Brasil, temos mais ou menos oito milhões de adeptos das mais variadas denominações evangélicas. Surgem por semana cinco novas igrejas.
Cada vez mais próximos à sociedade, os “crentes” deixaram de lado restrições quanto ao uso e costumes de vestuário, abolem o ascetismo e, com isso, fazem seu discurso penetrar com mais facilidade, atraindo novos adeptos, até mesmo em setores das classes média e alta, tradicionalmente mais avessos à mensagem do Evangelho. Mas o que me leva mesmo às raias da insanidade é saber que Alberto Bejani quer ser pastor. Este ainda diz que sua nova proposta espiritual não é para garantir a simpatia do eleitor evangélico. Não basta ter “um garotinho” bem sucedido que abusou do poder econômico nas eleições de 2008, tendo sido julgado e condenado, ainda teremos que aguentar Bejani.
O assunto me veio à tona por um motivo. No programa Miriam Leitão Especial, do canal fechado Globonews, a economista entrevistou a candidata à presidência pelo Partido Verde (PV), Marina Silva. O que vem ao caso foi a pergunta de Leitão sobre as convicções religiosas de Marina. A jornalista mais tarde tentou justificar o questionamento na coluna do jornal O Globo.
Diante da declaração de fé da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, que não se fundamenta na teologia liberal, mas no conservadorismo, o temor de Miriam Leitão reside no fato de que caso a candidata do PV vença as eleições seja imposto no país suas crenças religiosas, abalando a democracia. Um mero preconceito dito pela própria entrevistadora, haja vista que Marina sempre se dispôs a um diálogo aberto e não possui um perfil autoritário.
Todas as tentativas de impor algum controle aos hábitos e costumes ao nosso povo não foram e nem serão bem sucedidas. Daí conclui-se que a religiosidade de um candidato não implica no seu modo de governar. A gente olha sempre com certo preconceito para os obreiros da Igreja Evangélica e tudo isso tem lá bons motivos. Não é de hoje que vemos o quanto procede de irregularidades e enriquecimento ilícito de alguns pastores.
Temos um cardápio variado de igrejinhas a nossa volta recheadas de promessas. Um verdadeiro mercado religioso que funciona para bem do bolso de quem orienta suas ovelhas. Qualquer pessoa que tenha uma boa retórica pode frequentar um curso de teologia ou filosofia e se tornar um pastor, vide casos de certos políticos.
“A religião é uma excelente arma para manter o povo quieto”, conforme disse o imperador francês Napoleão Bonaparte. Isso me assusta! Por mais que falem da minha pobreza espiritual, da falta de fé, prefiro manter certa distância das portas que me convidam para a vida eterna e redenção dos meus pecados.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Auguste Rodin- A mão de Deus
Hoje, quando nosso time entrou em campo, pensei: um elefante incomoda muita gente, mas onze elefantes é demais! Na hora do hino o que mais me impressionou foi a musculatura dos jogadores marfinenses. Nosso time parecia de meninos desamparados no meio de titãs prontos para escalarem o céu e destronarem nossos Júpiteres. Com meus botões pensei: seremos massacrados. Mas jogo é bola que rola, cava buracos entre pernas e solavancos, logo fizemos o primeiro gol, e os elefantes atiram sobre nossa área seus pés e corpos em desvario.
Ai Deus resolveu que se um dia foi capaz de dar uma mãozinha aos argentinos (será mesmo que foi a mão santa do senhor?), porque não a nós, este povo que tanto o evoca. Luís Fabiano ajeitou o braço involuntariamente e num toque de dúvida, arte e mandinga fez o gol que provavelmente será polemizado por muitas e muitas copas.
Nada que se compare a mão de Maradona, nas quartas de final da copa de 1986, que fez a Argentina vencer contra os ingleses. Nosso gol foi realmente abençoado com a mãozinha lá de cima, o fabuloso, Luís Fabiano não tem a astúcia e a empáfia de “Dom Diego”.
Impetuoso, durante os anos no São Paulo, Luís Fabiano levou muitos cartões vermelhos, mas a fama de esquentado já ficou para trás. Hoje, o jogador combina força e faro de artilheiro com a tradicional categoria brasileira. Ele chuta bem com os dois pés e domina o jogo aéreo e agora tem o apoio divino nas mãos.
Se Nelson Rodrigues estivesse vivo nos brindaria com uma crônica épica sobre o jogo de domingo, sob seu olhar muito próprio, já que sofria de um problema de visão. Faz-nos muita falta a palavra de Nelson Rodrigues, João Saldanha, Armando Nogueira nos jogos de futebol.
Antigamente eu corria para ler as crônicas esportivas, vinham com frases inusitadas, citações filosóficas. Hoje, o que mais há é gente metida a comentar futebol, agora até os torcedores são comentaristas, como se qualquer um tivesse algo relevante a dizer. A abordagem é sem sentido e a gente há de se resignar ante o discurso ufanista desvairado dos Galvões globais.
Mas o domingo foi de festa, mesmo com a expulsão de Kaká, os destemperos de Dunga, aliás, poderiam tê-lo feito xará do "Zangado": há semelhanças óbvias no temperamento dos dois. Partimos para as oitavas finais, certos em compreender que quando a mão de Deus toca o homem, ele recebe a força divina. No entanto, sejamos cautelosos, essa mesma mão que afaga, muda-nos o rumo, pode sentir-se magoada quando desviamos do caminho da dignidade, que o diga Diogo Maradona que um dia foi amparado por ela.
Dos elefantes tenho algumas considerações: o atacante Drogba foi elegante não entrou em confusão e deixou sua marca de artilheiro. O restante do time foi violento, marcou forte e exagerou nas faltas.
A mim resta-me a sonhar com mobiles de elefantes cor-de-rosas no meu quarto mexendo, girando, impulsionados pela repentina aragem, nada que se compare com os jogadores da seleção da Costa do Marfim. Que venham os herdeiros dos Lusíadas, protegidos pelas Tágides (musas do rio Tejo), embalados em versos e pelo belo Cristiano Ronaldo.





segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pés


Que estúpido sapatos
Apertam os joanetes
São meus pés que crescem
Com os tempos passados
Eles que nunca foram curvilíneos
Agora se achatam pelo chão arreganhados

Pés negros no terreiro de café
Negro faminto
Sem aldeia
candeia
Sova o chão com a força de tambor
Para serem ouvidos
Do outro lado do atlântico

Parte que me sustenta na terra
Tem idade menos tenra
Que o resto do corpo
Quanto de suas dores
Não estão no meu passado?

Águo os pés no abismo do rio
Espreito a infância
No pique-esconde
Jogo da amarelinha
Corre cotia
E outras encruzilhadas doridas

Entre frieiras
Bicho de pé
Bolhas
Um calcanhar
Uma alma
Inundados de fissuras

E este sapato que me aperta
Tortura-me em glóbulos de ar
Espreme-me os dedos
Não levam a lugar algum

quinta-feira, 17 de junho de 2010