quarta-feira, 30 de junho de 2010

Rês desgarrada

O rebanho dos políticos parte em bandos para as Assembleias de Deus. É lá que encontram a maioria dos votos daqueles, que no desespero, abraçam o mundo evangélico como tábua de salvação e redenção para seus pecados e carências econômicas. Saibam que não são poucos. Hoje, no Brasil, temos mais ou menos oito milhões de adeptos das mais variadas denominações evangélicas. Surgem por semana cinco novas igrejas.
Cada vez mais próximos à sociedade, os “crentes” deixaram de lado restrições quanto ao uso e costumes de vestuário, abolem o ascetismo e, com isso, fazem seu discurso penetrar com mais facilidade, atraindo novos adeptos, até mesmo em setores das classes média e alta, tradicionalmente mais avessos à mensagem do Evangelho. Mas o que me leva mesmo às raias da insanidade é saber que Alberto Bejani quer ser pastor. Este ainda diz que sua nova proposta espiritual não é para garantir a simpatia do eleitor evangélico. Não basta ter “um garotinho” bem sucedido que abusou do poder econômico nas eleições de 2008, tendo sido julgado e condenado, ainda teremos que aguentar Bejani.
O assunto me veio à tona por um motivo. No programa Miriam Leitão Especial, do canal fechado Globonews, a economista entrevistou a candidata à presidência pelo Partido Verde (PV), Marina Silva. O que vem ao caso foi a pergunta de Leitão sobre as convicções religiosas de Marina. A jornalista mais tarde tentou justificar o questionamento na coluna do jornal O Globo.
Diante da declaração de fé da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, que não se fundamenta na teologia liberal, mas no conservadorismo, o temor de Miriam Leitão reside no fato de que caso a candidata do PV vença as eleições seja imposto no país suas crenças religiosas, abalando a democracia. Um mero preconceito dito pela própria entrevistadora, haja vista que Marina sempre se dispôs a um diálogo aberto e não possui um perfil autoritário.
Todas as tentativas de impor algum controle aos hábitos e costumes ao nosso povo não foram e nem serão bem sucedidas. Daí conclui-se que a religiosidade de um candidato não implica no seu modo de governar. A gente olha sempre com certo preconceito para os obreiros da Igreja Evangélica e tudo isso tem lá bons motivos. Não é de hoje que vemos o quanto procede de irregularidades e enriquecimento ilícito de alguns pastores.
Temos um cardápio variado de igrejinhas a nossa volta recheadas de promessas. Um verdadeiro mercado religioso que funciona para bem do bolso de quem orienta suas ovelhas. Qualquer pessoa que tenha uma boa retórica pode frequentar um curso de teologia ou filosofia e se tornar um pastor, vide casos de certos políticos.
“A religião é uma excelente arma para manter o povo quieto”, conforme disse o imperador francês Napoleão Bonaparte. Isso me assusta! Por mais que falem da minha pobreza espiritual, da falta de fé, prefiro manter certa distância das portas que me convidam para a vida eterna e redenção dos meus pecados.

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