Quando a Holanda fez o segundo gol, meu peito travou, engoli a seco, decidi que era hora de retirar a bandeira da janela, a pipoca da sala. Eu sabia que não adiantava evocar santos. Pensei nos sonhos dos meninos-jogadores que para driblar a miséria, apostam as esperanças de uma vida mais digna nos pés. É um drible contra a miséria e a falta de escolaridade.
O futebol promove uma trégua na perversa desigualdade social, a maioria dos garotos de origem pobre no Brasil sonha em ser jogador de futebol. Afinal, num país com a oitava pior distribuição de
renda do mundo, as chances de ascensão social são pequenas. E a Copa Mundial de Futebol é a consagração, a oportunidade de bons salários e respeito como cidadão.
Em outros tempos, eu achava absurdo o salário que os jogadores ganhavam, afinal, muitos dos nossos filhos passam anos em bancos de faculdades e suas remunerações nem chegam perto dos atletas. Hoje entendo que essas distorções são umas formas de compensação.
Os jogos da Copa são a única ocasião em que todos nós, brasileiros, nos lembramos do Brasil, como pátria. Vestimos-nos de verde-amarelo, sem preconceitos. A combinação não é nada harmoniosa, convenhamos. Num misto de orgia, folia, paixão poetizamos as ruas, praças, praias e todas as vias e vielas do Norte ao Sul num momento tão coletivo e único de cidadania.
Literalmente, futebol por aqui é uma catarse, uma sutil esperança vinda de quatro em quatro anos. Parece que se o Brasil ganhar a competição todos sairemos gratificados. Sairemos sim, de alma lavada, com a certeza que somos os melhores em alguma que nem sabemos bem o que é.
Maldita Holanda! Que há muitos anos esteve por aqui e quase controlou todo o Nordeste. Talvez se cá ficassem por mais tempo, teríamos aprendido algumas bases sociais e econômicas bem diferentes do nosso “Brasil português”.
Depois de tanto tempo num gramado distante nos encontramos com os holandeses, por quarenta e cinco minutos fomos supremos. No segundo tempo, a seleção laranja melhorou e pela primeira vez desde 1974 venceu o Brasil numa Copa do Mundo. Wesley Sneijder marcou os dois gols holandeses contra o Brasil e se tornou herói.
A Holanda não foi um time perfeito, mas jogou do mesmo jeito do começo ao fim da partida, pressionando pela posse de bola no campo do Brasil, ciente de sua inferioridade técnica. Foi taticamente aplicada, e contou com uma sorte fantástica, diga-se de passagem. O desastrado Felipe Melo subiu numa bola que o Lúcio ou o Juan teriam deixado para o goleiro. Perdemos para os próprios nervos, atiçados pela marra, catimba e vontade de vencer dos holandeses. Do lado de cá restou-nos jogar “pedras na Geni”, Dunga, enfiar a viola no saco e crer que em 2014, venceremos.
O fracasso futebolístico nos submete a frustração de que o nosso sucesso como povo e nação estará sempre atado ao futebol. Saímos todos em prantos, enrolamos nossos símbolos acreditando que a perda cravou um punhal no nosso desenvolvimento. No final ficamos órfãos, o chope amargou, a conta atrasada, mais difícil de se pagar, os salgadinhos espalhados pela sala, a maldita vuvuzela se calou e tudo cinza ficou. Sobra-nos um conforto, a Argentina também voltou pra casa de mãos abanando.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Futebol: muito mais que um esporte.
Alfredo Volpi
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Um comentário:
Ei dona, faltou garra....os caras entraram em desespero; PURO DESPREPARO EMOCIAONAL. Não pude entender, se bem que desde o começo achei que os selecionados eram todos medianos...faltou ousadia ao ortodoxo Dunga.....isso o futebol brasileiro nao aceita.....faltou coragem ao Ricardo Teixeira prá trocar o anão recalcado....gaúcho é conservador e bairrista, por definição.
Não é porque perdeu que digo isso....nunca acreditei no trabalhinho formiguistico do anão.
1 dunga, 23 sonecas e 190 milhões de zangados....dito certíssimo.
Pelé, Garrincha, Gerson, Riva, Djalma, Tostão, Dirceu,Zico, Falcão, Romário, Bebeto, Clodoaldo, Brito, Piazza, Everaldo, Zé Maria, e até o bravo Dadá choram o timéco de merda que o babaca levou.
Deixou aqui o Neymar, o Ganso, o Ernandes, o Gaúcho, Washington, e outros.
O Kokô tava bichado( e todos sabiam, mas esconderam), o klebérson é bosta pura(reserva), o Grafite não tem cor, o Josué (apelido: não é), é outra merda.
Tinha tudo prá dar no que deu. NÃO ADINATA CHORAR.....TRAGÉDIA ANUNCIADA DESDE QUE SAIU DAQUI.
E O PIOR DE TUDO: O MOLUSCO RECEBEU A SELEÇÃO EM BRASILIA: FRACASSO DEFINIDO. MEUS PRIMOS ESPANHÓIS MANDARAM E-MAIL COM MIL GOZAÇÕES. REGRA GERAL: VOCES BRASILEIRINHOS FALARAM MUITO E JOGARAM POUCO....TIVE QUE AGUENTAR.
ABRACIM E QUEIJIM.
Juanito
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