segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pés


Que estúpido sapatos
Apertam os joanetes
São meus pés que crescem
Com os tempos passados
Eles que nunca foram curvilíneos
Agora se achatam pelo chão arreganhados

Pés negros no terreiro de café
Negro faminto
Sem aldeia
candeia
Sova o chão com a força de tambor
Para serem ouvidos
Do outro lado do atlântico

Parte que me sustenta na terra
Tem idade menos tenra
Que o resto do corpo
Quanto de suas dores
Não estão no meu passado?

Águo os pés no abismo do rio
Espreito a infância
No pique-esconde
Jogo da amarelinha
Corre cotia
E outras encruzilhadas doridas

Entre frieiras
Bicho de pé
Bolhas
Um calcanhar
Uma alma
Inundados de fissuras

E este sapato que me aperta
Tortura-me em glóbulos de ar
Espreme-me os dedos
Não levam a lugar algum

Nenhum comentário: