Aprendi que alfabeto é coisa que se embrulha. Por isso, carrego um saco no peito cheio de letras. Alimento-me de versos. Tem dia que arqueio o pensamento, solto arrotos e desabo-me inteira em prantos. É que dentro de mim ancoram lembranças. Reboco-as com maquiagem exagerada, porque sei no quanto sou insuportável se estou com saudade. E reverso entre a Maria tonta e a Maria venturosa. Assim, mergulho no imperfectível das entranhas do ser. O que tenho não se cura com doses halopáticas ou homeopáticas, é agonia em ritos, uma alma ambulante que se vende por qualquer afeto.
Em nada sou intuitiva. Ajo como os pássaros: saltito por galhos, solto grasnidos, esforço-me por ser ouvida, tenho tanto dentro de mim que mal cabe num só voo. Quando olho espelhos, vejo com gosto o que os outros não captam. Minha boca, cheia de teias, tece versos em rendas de brio, alguns apaixonados, outros enlutados que por descuido revelam as dores que mal sei fingir.
Não têm paredes, nem corredores nos sonhos de quem sonha. Carrego o medo de ser desatinada por soltar o verbo sem a prudência dos adultos. Ouso o riso inábil, se me afrontam, faço-me de tonta porque sou Narciso, vivo para me amar.
Impossível viver linearmente, no fundo entediante. Não me presto a ser transparente como as lentes dos míopes, reviro a bobagem avulsa atrás das verdades escondidas nos tapetes. No dia da minha morte, Maria a louca não fechará os olhos. Devo pegar um pé de vento num cavalo, galopar saboreando uma bacia de camarões.
Mas a morte anda distante e eu ainda tenho muito que espernear. Dentro da minha retina há tantas horas e épocas para se nascer, que seria uma puta sacanagem ter em mim apenas uma existência. Enquanto o tempo fogueia, enrolo-me em cetim e reinvento uma outra história, como Sherazade. Vagueio nos pontos do bordado, absorta nas minhas ilusões.
Em nada sou intuitiva. Ajo como os pássaros: saltito por galhos, solto grasnidos, esforço-me por ser ouvida, tenho tanto dentro de mim que mal cabe num só voo. Quando olho espelhos, vejo com gosto o que os outros não captam. Minha boca, cheia de teias, tece versos em rendas de brio, alguns apaixonados, outros enlutados que por descuido revelam as dores que mal sei fingir.
Não têm paredes, nem corredores nos sonhos de quem sonha. Carrego o medo de ser desatinada por soltar o verbo sem a prudência dos adultos. Ouso o riso inábil, se me afrontam, faço-me de tonta porque sou Narciso, vivo para me amar.
Impossível viver linearmente, no fundo entediante. Não me presto a ser transparente como as lentes dos míopes, reviro a bobagem avulsa atrás das verdades escondidas nos tapetes. No dia da minha morte, Maria a louca não fechará os olhos. Devo pegar um pé de vento num cavalo, galopar saboreando uma bacia de camarões.
Mas a morte anda distante e eu ainda tenho muito que espernear. Dentro da minha retina há tantas horas e épocas para se nascer, que seria uma puta sacanagem ter em mim apenas uma existência. Enquanto o tempo fogueia, enrolo-me em cetim e reinvento uma outra história, como Sherazade. Vagueio nos pontos do bordado, absorta nas minhas ilusões.
2 comentários:
Uma das coisas mais lindamente profunda que já lí, seu âmago é belo!
B-Jos.
Fátima, gostei muito! Há muito tempo eu estava me devendo esse presente de vir ao seu blog, não me decepcionei! Um beijo! Saudades! Diogo (do curso do CCBM).
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