quarta-feira, 17 de março de 2010

De dentro do meu umbigo


“Ó, maravilha!
Que adoráveis criaturas aqui estão!
Como é belo o gênero humano!
Ó Admirável Mundo Novo
Que possui gente assim!”
(Willian Shakespeare, A tempestade, Ato V)

Será mesmo isso uma verdade? Procuro olhar meu vizinho com condescendência, todas as manhãs. Na rua, mantenho minha bolsa agarrada ao corpo e um olhar humilde quando cruzo com gente maltrapilha. Puro preconceito meu, meninos bem criados também cometem barbáries.
Tiros matam cartunista e seu filho! O acusado do crime é Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, rapaz de classe médio alta, provavelmente educado em boas escolas.
A família moderna está concentrada em “ganhar dinheiro”. Preocupados em manter o status, deixam seus filhos entregues às babás eletrônicas: televisão, vídeo games, internet e a vadiagem. A integridade do caráter está no consumir em shopings centers e baladas nos finais de semana com os amigos. Sem referências, sem aconchego, crescem na futilidade E os meninos caem no vazio, buscam emoções para preenchê-lo no mundo das drogas, na prática da violência gratuita e sem sentido.
Tráfico, assalto, assassinato e seqüestro, no Brasil, deixaram de ser apenas “coisa de pobre”. Existe uma crescente onda de violência explícita e gratuita entre os seres humanos, sejam eles de qualquer classe social, que vivem no Brasil ou em qualquer parte do planeta.
Provavelmente Shakespere, não escreveria o quanto é adorável o gênero humano, se hoje vivesse. Eu não sei bem o caminho a tomar para mudar, tenho certeza apenas que a vida pouco vale. Mata-se sob efeito do crack, em nome de Jesus e até mesmo se dizendo o próprio.
Na última quinta-feira, Carlos Eduardo tirou violentamente a vida do cartunista Glauco e de seu filho, Raoni. Junto encerrou o ciclo de Geraldão, Netão, Dona Marta, Zé do Apocalipse e tantos outros. Personagens que bem caracterizam nossa gente.
Estamos nos acostumando com essa realidade, esperamos a dor passar até que outro morra e a indignação nos toque de novo. É normal cruzarmos o braço diante do tráfico, do abandono aos nossos filhos, de morrer por bala perdida ou partida de uma mente insana? Estamos normalizando a violência ao nosso cotidiano. Ficamos menos civilizados, cada qual cuida do seu umbigo, esse é o legado do capitalismo. O “Admirável Mundo Novo, que possui gente assim”. Preciso de um gardenal!

2 comentários:

Marcelino Tostes Padilha Neto disse...

Só mesmo um comentário: Sem comentários!

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Boa tarde.
É difícil demais. O ser humano que, antigamente, vivia com medo de Deus, agora treme de medo do próximo.

Um grande abraço.