quinta-feira, 17 de junho de 2010

reminiscências


naquela casa minha avó resmungava
plantava roseiras
via o rio
que abraçou mais um filho suicida
sua alma embaralhada
inventava cantigas para eu dormir

sobre a mesa
moringa com água da mina
canecas de alumínio
pratos de ágata
comida farta

eu pessoinha miúda
passos curtos
via a lamparina a fumegar
os primeiros cheiros
querosene
rosas
perdia a consciência
pelos corredores infindos da casa

naquele tempo...
eu dormia eternidades
todos cuidavam de mim
davam-me a mão e oração
cobriam-me com cuidados homeopáticos

espreitei a fresta do assoalho
lá estavam sonhos fatigados
nossos umbigos encovados
sussurros dos tios suicidas
conheci o medo
chorei baixo
resolvi plantar rosas como minha avó

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