quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sobre mim

Eu, que me encantava com tanto,
perdi a graça, fiquei ingrata.
Mulher feita, sem enfeites
legitimei o riso amarelo.
E, sobre mim, pairam brasas.

Se digo a verdade, é o inferno.
Viver é experimento do observar.
E depois de tanto, a língua destrava,
sem consentimento.
Deus ri baixinho,
solidário a mim.
E a alma poeta transborda,
borda sobre o papel
a acidez dos versos.

Não sou amarga.
Sou assim, meio destemida,
olho sem vergonhas
a nudez do mundo.
Crio atalhos pela madrugada,
farejo o pólen,
semeio minhas cruzes
nos poemas inventados.

E nesta lassidão
rebordo a vida
que teima em gemer
na lua minguante.
Vou colando estrelas no teto,
roubo da noite o silêncio,
mudo meus rumos.

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