quarta-feira, 23 de junho de 2010

Auguste Rodin- A mão de Deus
Hoje, quando nosso time entrou em campo, pensei: um elefante incomoda muita gente, mas onze elefantes é demais! Na hora do hino o que mais me impressionou foi a musculatura dos jogadores marfinenses. Nosso time parecia de meninos desamparados no meio de titãs prontos para escalarem o céu e destronarem nossos Júpiteres. Com meus botões pensei: seremos massacrados. Mas jogo é bola que rola, cava buracos entre pernas e solavancos, logo fizemos o primeiro gol, e os elefantes atiram sobre nossa área seus pés e corpos em desvario.
Ai Deus resolveu que se um dia foi capaz de dar uma mãozinha aos argentinos (será mesmo que foi a mão santa do senhor?), porque não a nós, este povo que tanto o evoca. Luís Fabiano ajeitou o braço involuntariamente e num toque de dúvida, arte e mandinga fez o gol que provavelmente será polemizado por muitas e muitas copas.
Nada que se compare a mão de Maradona, nas quartas de final da copa de 1986, que fez a Argentina vencer contra os ingleses. Nosso gol foi realmente abençoado com a mãozinha lá de cima, o fabuloso, Luís Fabiano não tem a astúcia e a empáfia de “Dom Diego”.
Impetuoso, durante os anos no São Paulo, Luís Fabiano levou muitos cartões vermelhos, mas a fama de esquentado já ficou para trás. Hoje, o jogador combina força e faro de artilheiro com a tradicional categoria brasileira. Ele chuta bem com os dois pés e domina o jogo aéreo e agora tem o apoio divino nas mãos.
Se Nelson Rodrigues estivesse vivo nos brindaria com uma crônica épica sobre o jogo de domingo, sob seu olhar muito próprio, já que sofria de um problema de visão. Faz-nos muita falta a palavra de Nelson Rodrigues, João Saldanha, Armando Nogueira nos jogos de futebol.
Antigamente eu corria para ler as crônicas esportivas, vinham com frases inusitadas, citações filosóficas. Hoje, o que mais há é gente metida a comentar futebol, agora até os torcedores são comentaristas, como se qualquer um tivesse algo relevante a dizer. A abordagem é sem sentido e a gente há de se resignar ante o discurso ufanista desvairado dos Galvões globais.
Mas o domingo foi de festa, mesmo com a expulsão de Kaká, os destemperos de Dunga, aliás, poderiam tê-lo feito xará do "Zangado": há semelhanças óbvias no temperamento dos dois. Partimos para as oitavas finais, certos em compreender que quando a mão de Deus toca o homem, ele recebe a força divina. No entanto, sejamos cautelosos, essa mesma mão que afaga, muda-nos o rumo, pode sentir-se magoada quando desviamos do caminho da dignidade, que o diga Diogo Maradona que um dia foi amparado por ela.
Dos elefantes tenho algumas considerações: o atacante Drogba foi elegante não entrou em confusão e deixou sua marca de artilheiro. O restante do time foi violento, marcou forte e exagerou nas faltas.
A mim resta-me a sonhar com mobiles de elefantes cor-de-rosas no meu quarto mexendo, girando, impulsionados pela repentina aragem, nada que se compare com os jogadores da seleção da Costa do Marfim. Que venham os herdeiros dos Lusíadas, protegidos pelas Tágides (musas do rio Tejo), embalados em versos e pelo belo Cristiano Ronaldo.





Um comentário:

Marcelino Tostes Padilha Neto disse...

Adorei tudo o q disse e praticamente revi o jogo! rsrsrsrs... praticamente um Nélson Rodrigues de saias! kkkkkkkkkkkkkk
Bjão! Adoro tudo o q escreve!